quinta-feira, 25 de março de 2010

SOFRIMENTO DE INÊS

BALADA PARA INÊS

TROVA A INÊS

A Galega, no séquito de D. Constança, a Portugal chegou
O primeiro olhar trocado e logo o Amor no ar pairou.
D. Pedro pelo colo de garça, de imediato, loucamente se apaixonou
E aquele Amor ardente, para muitos, infame, até hoje perdurou.

Tal como o fruto proibido é o mais pretendido,
A distância, com o exílio de Inês, por D. Afonso forçada,
Tornou cada encontro furtivo ainda mais apetecido,
Despoletando nele um puro amor pela sua doce amada.


D. Constança também já tinha, usando de astúcia, criado um estratagema,
Para separar os dous amantes e poupar aquele seu nobre diadema,
Do seu primeiro filho, Luís, madrinha a tornou…
Mas, um novo nascimento o óbito dela causou.

Longe, numa das suas caçadas, D. Pedro nem imaginava
Que o seu Pai, com seus algozes, a morte de Inês congeminava.
As brutas feras a bela jovem indefesa assassinaram
Não se lembrando que ao fazê-lo, a sua sentença ditaram.

D. Pedro não descansou, enquanto os não matou
A trasladação da sua imortal amada não descurou
E todo o Reino ao póstumo beija-mão obrigou
E, desta forma, a coroou e sua memória eternizou.

O seu desmesurado amor por Inês suscitou
A construção de dois túmulos deslumbrantes
Por onde muita gente passou e sentidamente chorou
O triste infortúnio destes dois exímios amantes.




Povo de Portugal

PRÉSTITO DE INÊS

El rei D. Pedro de Portugal faz saber que, a dois de Abril do ano mil trezentos e sessenta e um de Nosso Senhor Jesus Cristo, será feita a trasladação da mui nobre Senhora D. Inês, de Coimbra, do Mosteiro de Santa Clara, para o túmulo de Alcobaça.
Ordena que toda a população de Coimbra e arredores esteja presente neste solene evento, onde se ajunte, em majestoso e pesaroso cortejo, cinco mil círios e archotes acesos.
Deverão também integrar este préstito mil carpideiras, que entoem cânticos plangentes e lancem gritos lancinantes; mil Senhores e Senhoras, a cavalgar corcéis; mil membros do Clero, em ininterrupta oração pela alma daquela gentil Senhora; mil burgueses, com oferendas majestosas e dignas de uma Rainha ilustre; mil humildes homens do povo de cabelos rapados e sem barba na expressão pública de luto.
Para transporte do ataúde fúnebre da Senhora Dona Inês, doze escudeiros vestidos de estamenha crua.
Na frente da procissão, um Franciscano que suporte uma enorme cruz de Cristo


El-Rei D. Pedro

HOMICÍDIO EM COIMBRA

Hoje, 7 de Janeiro, nos Paços de Santa Clara, em Coimbra, Diogo Lopes Pacheco, Pedro Coelho e Álvaro Gonçalves degolaram a minha adorada Inês.

Esta e os nossos filhos inundaram o Mondego com as suas salgadas lágrimas de súplica ao meu pai, cujo coração empedernido nem vacilou e, friamente, ordenou o seu macabro massacre.

Não posso crer que o nosso Amor tão puro tenha tido um fim tão indigno.

Agora, percebo que aqueles gritos lancinantes da lebre e dos seus filhotes agoniantes, aquando da nossa caçada, prenunciavam já a metamorfose deste dia que de tão radioso, de súbito, se transformou em tenebroso.


Pedro

PRENÚNCIO DE MORTE

Coimbra, 7 de Janeiro de 1355



Ai, Coimbra…


Os teus ares frescos, convidaram-me a sentar nesta sombra calma, de onde aspiro um ar puro, de onde ouço as águas descendo a encosta e cantarolando um louvor à vida, de onde sinto o suave cheiro do aroma verdejante desta bela paisagem que me envolve…
Toda esta quietude, que deveria proporcionar-me uma felicidade e paz interior, me traz numa melancolia e sobressalto mui grandes…
Por onde andará o meu jovem e adorado Pedro?!
Nas cavalgadas, em partes incertas ….
Será que pensa em mim, nos deleitosos e loucos momentos que partilhámos e nos nossos formosos rebentos - fruto desse amor eterno e sublime que nos enleia - que vagueiam e brincam por esses campos afora, sempre, de perto, por meus olhos atentos, seguidos? …
Não saberei jamais viver apartada da sua Companhia e Bem-querer… Um só e breve instante de ausência e todos os cenários dos mais macabros e horríficos se me afiguram diante destes olhos que se turvam…
Por que motivo estarei eu nestes loucos devaneios?!
O meu coração pressagia algo que nada de bom nos trará …
Mas, porque será que, repentinamente, o ar se arrefece, o céu se escurece e as águas já não cantam, mas choram? … As minhas mãos trémulas já não têm força sequer para prosseguir nestes meus desabafos…
Pedro, se o meu coração, um dia, deixar de bater, compassado, ao ritmo do teu, procura-me neste paradisíaco local, onde ambos bateram numa só cadência, a do AMOR… Salva-o, eterniza-o…
A tua sempre tua,






Inês



MORTE DE D. CONSTANÇA

13 de Novembro de 1345



Hoje, logo após o nascimento do nosso filho, o infante Fernando, D. Constança, a minha leal companheira e mãe extremosa, expirou. Nem tempo teve de aconchegar nos seus braços o filho que tanto desejara para consolo do seu infortúnio.

Esta morte, que a todos consternou, traz-me (posso, enfim, confessá-lo!) um enorme alívio para esta minha alma já cansada de esconder o avassalador amor que me une à minha amada Inês e termina aquele infindável enredo de enganos em que a obriguei a viver todos estes anos.

Que a sua alma descanse em paz nos braços do Senhor, que eu me entrego, finalmente, livre nos braços de Inês…


Pedro

NASCIMENTO DO PRIMEIRO FILHO

1346


Hoje, nasceu o primeiro formoso rebento que sela o Amor, para muitos proibido, que nos ajuntou… Receberá como graça Afonso, tal como o primeiro rei do teu ninho paterno…
As dores do parto rapidamente foram esquecidas, quando pude afagar este ser ainda tão frágil e tão minúsculo, mas fruto de um grandioso sentimento… Mas, transformar-se-á, certamente, num rapagão valente, na alegria das nossas vidas e, quiçá, no amparo da nossa velhice…
Posso rever no seu rostinho, ainda enrugadinho, as tuas belas feições e pude ver no teu olhar o mesmo brilho que presenciei naquela primeira noite de amor e loucuras…
Deus concedeu-nos esta bênção maior… Que a proteja de hoje em diante.


Inês

CLAUSURA NO CASTELO

Albuquerque, 1344

Encarceram-me aqui, neste castelo de Albuquerque, na região da raia entre Castela e Portugal, quiseram roubar-te de mim e conseguiram-no. Já o havia tentado tua esposa, quando congeminou aquele estratagema de me convidar para madrinha do vosso filho, o tenro e franzino, infante Luís. Mas, agora, este meu forçado exílio tem o dedo do teu pai, o Sr. D. Afonso IV… Ele não entende o quanto nos amámos, nos queremos bem… Tudo fará para nos separar definitivamente… Coração insensível o dele…
Sinto-me só, abandonada… Preciso do teu carinho, do teu abraço forte para atenuar esta melancolia e padecimento que me invadem, me gelam o corpo e a alma! Ó meu Deus, afasta de mim este cálice, se puderes…
Não vou contudo desistir deste sentimento único e tão nobre, só ele me alenta e me faz agarrar à vida e suportar esta clausura dos Homens e do Mundo…




Inês

O PRIMEIRO BEIJO

1343



Um bem-haja à Vida, à Paixão e ao Amor…


Hoje, posso verbalizar que se fosse apartada deste mundo, partiria felicíssima, num doce e eterno enlevo…
Tenho que me beliscar para confirmar que foi real e não apenas uma quimera...
Tal como me havias dado a entender, em surdina, vieste, finalmente, à minha procura, ao meu encontro… Trazias nos olhos um brilho que ofuscava e que rapidamente contagiou, mais ainda, ofuscou os meus.
Aceleraste os batimentos do meu coração que parecia querer saltar-me do peito e enrubescia as maçãs do meu rosto, fazia tremer-me as pernas e ver tudo enevoado…
E eis que, de repente, o inesperado sucedeu: os teus lábios juntaram-se aos meus, lenta e suavemente, mas queimando, devastando tudo por onde roçavam… E pude, enfim, sentir o toque das tuas mãos e perceber que o teu e o meu coração batiam ao ritmo da mesma balada, a do AMOR…
Se alguma dúvida restasse, as tuas ternas palavras, que eram um hino de louvor ao sentimento inquebrável que nos unia, fizeram tudo desvanecer…
Ainda posso sentir o teu odor e o sabor a mel dos teus lábios… Parecia que isso me bastava, mas já anseio por mais e mais… Já não consigo mais conformar-me sem os teus beijos, os teus abraços e a tua insaciável paixão…
Volta, meu amor, o mais rápido que puderes para os meus braços que te aguardam… Não te esqueças que juntos provámos o mais adorável néctar…






Inês

MAIS UM LAMENTO...

1342



Meu adorado Pedro,


As minhas noites, que deveriam ser sinónimo de descanso, são de tormenta, dado que não te posso sequer vislumbrar e tenho pesadelos só de saber-te noutro leito, o conjugal, abraçado a essa que o matrimónio conferiu os direitos e (inveja perversa!) os prazeres de esposa…
Mas, de dia, o suplício é ainda maior, pois vejo-te de relance apenas, mas não te posso confessar o quanto me trazes cativa e em sofrimento atroz.
Será que me vês única e simplesmente como uma aia de tua mulher? Ou será que esses teus belos olhos tentam também esconder o teu verdadeiro estado de alma? Será que poderei ter alguma, ainda que ténue, esperança?!
Como mulher temente a Deus deveria abominar tais pensamentos pecaminosos, mas sou humana e o coração tem razões que a própria razão desconhece…
Não escolhi amar-te, o destino assim o determinou, para (talvez!) desgraça minha…
Quanto mais o tempo avança, mais difícil é refrear este cavalo indomável que corre, salta na arena do meu peito…


Inês

CHEGADA A PORTUGAL

30 de Novembro de 1340



Desde que cheguei, inda há pouco, a Portugal e mesmo, entre os afazeres e os lazeres da leitura e da música, vislumbro o teu rosto… Aquele que gravei no meu coração, desde o primeiro e breve olhar que contigo troquei, mas que ateou, desenfreadamente, neste meu frágil coração, a paixão, o amor que já não consigo disfarçar…

Diante do meu olhar comprometido, anda sempre essa tua esbelta e robusta compleição física; esse teu ar sereno, alegre; essa tua determinação valente… Posso já afirmar, com toda a convicção, que fui profunda e irremediavelmente atingida pela seta do Cupido… Foi, sem dúvida, amor à primeira vista…

Junto de tua frágil e serena esposa, D. Constança, bem tento esconder este sentimento que me consome e que a atraiçoa, mas evitá-lo já não posso…

Apenas quando estás por perto, meu Apolo, eu vivo, eu respiro e eu sou feliz! Todo o restante tempo sobrevivo… Tu és o meu Sol, a minha Luz e a minha Verdade…






Inês